Para S&P, será difícil Congresso aprovar reforma da Previdência este ano

Lisa Schineller, diretora da agência, também não acredita que governo tome medidas fiscais mais duras em ano eleitoral

Lisa Schineller, diretora da S&P, em evento no Rio em 2016. Foto Custodio Coimbra - Custódio Coimbra / Agência O Globo

SÃO PAULO – A diretora de ratings soberanos da agência de classificação de risco S&P, Lisa Schineller, afirmou nesta sexta-feira em teleconferência que acredita que será muito difícil que o Congresso aprove a reforma da Previdência neste ano, em que ocorrerão eleições presidenciais no Brasil.

— Temos dúvidas sobre o avanço da reforma da previdência em ano eleitoral. Notamos uma resistência mais profunda a esta mudança. E ficamos com a dúvida sobre qual tipo de reforma pode surgir. Os atrasos constantes nessa negociação destacam esse desgaste que observamos. Também será difícil que o governo tome medidas fiscais mais duras — disse Schineller.

Ela afirmou que mesmo que a reforma acabe sendo aprovada pelo Congresso em fevereiro, a S&P não reverterá a nota do país. Schineller afirmou que “mesmo no melhor cenário”, apenas a reforma da previdência não melhora a situação fiscal do país no curto prazo. Nesta quinta-feira, a S&P rebaixou a nota do rating soberano do Brasil de “BB” para “BB-“, três níveis abaixo do grau de investimento.

Schineller observou que a mudança em si da “chamada regra de ouro”, mecanismo que impede que a União emita dívida em volume superior às despesas de capital, não mexeria com o rating do país isoladamente. Mas essa possibilidade mostrou as graves dificuldades do governo com o quadro fiscal.

— Na nossa avaliação, o governo do presidente Temer vem sendo mais lento do que esperávamos em tomar as medidas corretivas para reverter a trajetória crescente do déficit fiscal — disse Schineller.

Schineller repetiu que o atraso nas medidas para reverter a trajetória crescente do déficit público, incluindo o adiamento da votação da reforma da Previdência pelo Congresso, foram cruciais para o rebaixamento do rating do país.

Ela ressaltou que houve progressos em alguns pontos, como a aprovação da reforma trabalhista, do teto dos gastos do governo e a decisão de privatizar a Eletrobras, além de outras medidas microeconômicas. Também destacou como positiva a política monetária do Banco Central, que conseguiu derrubar os juros e domar a inflação.

Mas observou que o Governo não conseguiu aprovar projetos que poderiam melhorar o quadro fiscal já neste ano. O governo não conseguiu aprovar o aumento do imposto de renda para fundos exclusivos e adiar o reajuste do funcionalismo federal. Uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) também suspendeu o aumento da contribuição previdenciária de 11% para 14%. A diretora da S&P destacou ainda que o crescimento da economia brasileira fica abaixo de países com o mesmo rating.

Sobre a incerteza das eleições este ano, outro fator que pesou na decisão de rebaixamento de rating, Schineller afirmou que o pleito deste ano parece “mais aberto” do que em eleições passadas, já que os escândalos de corrupção abalaram a classe política brasileira. Isso favorece o surgimento de candidatos “outsiders” que dificilmente conseguiriam montar uma base política consistente.

— Pode ser mais difícil montar uma coalizão para aprovar esse projetos de cunho fiscal para alguém que não tenha habilidade política — afirmou ela, que lembrou que o presidente Michel Temer veio do Congresso, é um experiente articulador e mesmo assim enfrenta dificuldades de negociação.

Sobre uma possível vitória do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, a diretora da S&P afirmou que não analisa nomes, e afirmou que a agência é cuidadosa em separar o que é retórica de campanha e as políticas que serão de fato adotadas após as eleições.

Fonte: O Globo

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