Para S&P, será difícil Congresso aprovar reforma da Previdência este ano
Lisa Schineller, diretora da agência, também não acredita que governo tome medidas fiscais mais duras em ano eleitoral

SÃO PAULO – A diretora de ratings soberanos da agência de classificação de risco S&P, Lisa Schineller, afirmou nesta sexta-feira em teleconferência que acredita que será muito difícil que o Congresso aprove a reforma da Previdência neste ano, em que ocorrerão eleições presidenciais no Brasil.
— Temos dúvidas sobre o avanço da reforma da previdência em ano eleitoral. Notamos uma resistência mais profunda a esta mudança. E ficamos com a dúvida sobre qual tipo de reforma pode surgir. Os atrasos constantes nessa negociação destacam esse desgaste que observamos. Também será difícil que o governo tome medidas fiscais mais duras — disse Schineller.
Ela afirmou que mesmo que a reforma acabe sendo aprovada pelo Congresso em fevereiro, a S&P não reverterá a nota do país. Schineller afirmou que “mesmo no melhor cenário”, apenas a reforma da previdência não melhora a situação fiscal do país no curto prazo. Nesta quinta-feira, a S&P rebaixou a nota do rating soberano do Brasil de “BB” para “BB-“, três níveis abaixo do grau de investimento.
Schineller observou que a mudança em si da “chamada regra de ouro”, mecanismo que impede que a União emita dívida em volume superior às despesas de capital, não mexeria com o rating do país isoladamente. Mas essa possibilidade mostrou as graves dificuldades do governo com o quadro fiscal.
— Na nossa avaliação, o governo do presidente Temer vem sendo mais lento do que esperávamos em tomar as medidas corretivas para reverter a trajetória crescente do déficit fiscal — disse Schineller.
Schineller repetiu que o atraso nas medidas para reverter a trajetória crescente do déficit público, incluindo o adiamento da votação da reforma da Previdência pelo Congresso, foram cruciais para o rebaixamento do rating do país.
Ela ressaltou que houve progressos em alguns pontos, como a aprovação da reforma trabalhista, do teto dos gastos do governo e a decisão de privatizar a Eletrobras, além de outras medidas microeconômicas. Também destacou como positiva a política monetária do Banco Central, que conseguiu derrubar os juros e domar a inflação.
Mas observou que o Governo não conseguiu aprovar projetos que poderiam melhorar o quadro fiscal já neste ano. O governo não conseguiu aprovar o aumento do imposto de renda para fundos exclusivos e adiar o reajuste do funcionalismo federal. Uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) também suspendeu o aumento da contribuição previdenciária de 11% para 14%. A diretora da S&P destacou ainda que o crescimento da economia brasileira fica abaixo de países com o mesmo rating.
— Pode ser mais difícil montar uma coalizão para aprovar esse projetos de cunho fiscal para alguém que não tenha habilidade política — afirmou ela, que lembrou que o presidente Michel Temer veio do Congresso, é um experiente articulador e mesmo assim enfrenta dificuldades de negociação.
Sobre uma possível vitória do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, a diretora da S&P afirmou que não analisa nomes, e afirmou que a agência é cuidadosa em separar o que é retórica de campanha e as políticas que serão de fato adotadas após as eleições.
Fonte: O Globo