O Plano Real venceu o passado e o futuro, disse Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim durante sua fala no seminário 25 anos do Plano Real, os desafios para o Brasil, nesta segunda-feira (1º/7), no auditório do Correio. Segundo Padovani, em 1º de julho de 1994, quando a nova moeda começou a circular, deixou para trás uma trajetória inflacionária alta de 80 anos. “Reduzimos a inflação de 5000% em junho de 1994, para 2% em pouco mais de quatro anos. Algo espetacular”, disse o economista, que era assessor da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda comandado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na época em que o Plano Real foi implementado.
Em sua palestra no painel Uma radiografia do Real e do Brasil hoje, ele dividiu a história da inflação no Brasil em cinco momentos nos últimos 100 anos. Entre 1916 e 1953, quando o reajuste médio anual dos preços foi de 8%, segundo ele, um dos melhores períodos. “No pós-Guerra (segundo Guerra Mundial) e sobretudo depois do governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), foi quando começou a escalada inflacionária vivida pelo país ao longo do século 20 e a taxa média anual subiu para 34% com instabilidade. Nos anos 80, até 1986, a taxa média anual subiu para 143% e a partir de 1987 o Brasil entrou no período de hiperinflação, quando a taxa anual média de inflação subiu o nível espetacular de 1.240%, chegando ao pico de 7000% em abril de 1990.
Para ele, depois de vencer o passado inflacionário, o Plano Real venceu também o futuro incerto ao criar um ambiente propício para criar ferramentas de gestão da economia que são aplicadas até hoje. “O Plano venceu um ambiente que era institucionalmente muito frágil e transformou a história brasileira”, lembra o economista de 50 anos, vividos metade em cada Brasil, um com e outro sem inflação. “Meu filho não consegue imaginar o mundo sem internet, imagina sem estabilidade da moeda”, brincou.
De acordo com Padovani, o Real abriu o caminho para instrumentos econômicos como a Lei de Responsabilidade Fiscal, o regime cambial flutuante, o sistema de metas de inflação. “Trocamos a ideia de choques econômicos para um período de regras de gestão. Hoje o Basil tem processos, transparência das contas públicas. E isso só passou ser viável depois que saimos do atoleiro diário em que vivíamos, em que não era possível planejar o amanhã”, disse.
Reforma da Previdência
Para Padovani, o histórico da economia brasileira, e no mundo, mostra que mudanças necessárias são feitas em épocas de crise, quando as reformas são feitas quando o custo de não fazê-las tornar-se muito grande. “A reforma da Previdência será aprovada porque há um medo social de ruptura, como havia quando foi feito o Plano Real. Mas não basta ter uma crise para mudar. É preciso ter equipe econômica de qualidade para traduzir as demandas públicas em ações concretas”, disse. Para ele, há hoje as mesmas resistências políticas, para fazer reformas, que havia na época do Plano Real, quando o Plano foi acusado de ser uma agenda eleitoreira para eleger Fernando Henrique Cardoso presidente.
o Seminário Uma Radiografia do Real e o Brasil de Hoje é realizado pelo Correio com apoio da Febrafite, dos Sistema Fibras, da Multiplan, da Fundação Getúlio Vargas e da FeComércio-DF.