Pacote de gestão não deve avançar
A economia de cerca de R$ 69,8 bilhões, em 10 anos, que o governo pretende com a edição do pacote de medidas de modernização da gestão de pessoas, não deve ocorrer a curto prazo e talvez não prospere sequer após as eleições. A iniciativa foi condenada por empresários, analistas de mercado e servidores. Até os que apoiam duvidam da possibilidade de o governo angariar apoio para assunto tão polêmico.
Na análise de Geraldo Biasoto, do Instituto de Economia da Unicamp, as mudanças no salário de acesso (R$ 5 mil) e na alíquota previdenciária do servidor (de 11% para 14%) propostas no pacote de modernização “é um jogo para a plateia e um tema saboroso para arregimentar simpatia”.
Biasoto considera que o ex-presidente Lula errou ao elevar demais os subsídios e também teme pelas consequências da explosão do teto dos gastos. “O problema é que esse ajuste é político e não técnico. É para mostrar ao Legislativo que não haverá liberação de emendas. Com recursos escassos, os parlamentares serão facilmente convencidos de que não é viável apertar o cinto por 20 anos.” O economista Cesar Bergo, socio-consultor da Corretora OpenInvest, apontou que é também uma artimanha para aprofundar a rusga entre Legislativo e Judiciário. “Um tentará enfraquecer o outro para ficar com o bolo maior”.
Baixar subsídios de R$ 15 mil para R$ 5 mil não é a solução. “Nas entrelinhas, o foco é acabar com o concurso público. Nivelar por baixo e contratar comissionados. Não há sinais de combate efetivo ao desperdício. A intenção de poupar R$ 294 bilhões, em 20 anos, vai por água abaixo”, disse Bergo.
Rudinei Marques, presidente do Fórum Nacional das Carreiras de Estado (Fonacate), lembrou que “os mais de R$ 360 bilhões anuais de sonegação, somados aos cerca de R$ 120 bilhões de incentivos fiscais, seriam suficientes para pagar por dois anos a folha de pessoal”. Floriano Sá Neto, presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip) reforçou que esse projeto não passa.
O clima não é favorável às mudanças propostas pelo governo para o serviço público, reforçou Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). O risco, se a União não segurar a despesa com pessoal (12,6% do total) e com a Previdência (57,1%), é de, em breve, ter que romper o teto dos gastos. “O resultado que a sociedade não quer: retorno da inflação e aumento dos juros, em um país que envelheceu sem enriquecer e que até o momento não tem um projeto de longo prazo. Estamos brincando à beira do abismo”, condenou Pimentel.
Fonte: ANFIP