Nota de repúdio do Sintrajufe/RS sobre matéria veiculada no Jornal Nacional em 5/12/2017

Na noite dessa terça-feira, 5, quem assistiu ao Jornal Nacional, principal programa da Rede Globo, deparou-se com uma apresentação que mais parecia peça publicitária do governo em sua sanha contra o funcionalismo. Ao longo de seis minutos, informações manipuladas, entremeadas de animações e infográficos, foram mostradas, sobre a remuneração no serviço público, em uma tentativa de colocar em lados opostos servidores e trabalhadores da iniciativa privada. Foram ouvidos vários “especialistas”, todos contra o funcionalismo. Em um arremedo de contraponto, para mostrar que ouviu todos os lados, a Globo deu a um dirigente da Fenanufe míseros 20 segundos para contra-argumentar.

O relatório “Um Ajuste Justo – Análise da Eficiência e Equidade do Gasto Público no Brasil”, do Banco Mundial, serviu de base para a reportagem. O JN afirmou que o serviço público tem uma “elite” e que 83% dos servidores estão no “topo da pirâmide” salarial do país. O Judiciário foi um dos principais alvos, com duas evidentes mentiras: foi afirmado que a média salarial da categoria é de R$ 17.744,00 – obviamente, esse número inclui a remuneração da magistratura, o que não dito ao telespectador – e que um advogado em início de carreira ganharia R$ 30 mil, sendo que o cargo “advogado” nem sequer existe no Judicário Federal.

Quem é o Banco Mundial? Essa instituição tem um histórico por fazer análises catastróficas da realidade de países em desenvolvimento e receitar, como tratamento, a destruição do Estado, com privatizações, redução do funcionalismo e entrega de riquezas a multinacionais. Foi o mesmo Banco Mundial que, em 1996, divulgou o Documento Técnico 319, no qual praticamente exigia o fim das justiças do Trabalho e Militar.

O relatório do Banco Mundial, cujos trechos a Globo divulgou, concluiu que o setor público brasileiro é caro e ineficaz. As análises feitas invertem causa e efeito. Por exemplo: no Brasil, 13,1% do PIB são direcionados para o pagamento da folha do setor público. A partir daí, o Banco Mundial afirmou que o salário do funcionalismo contribui para a desigualdade social no país. A causa não seriam a superexploração do trabalho, a falta de dignidade no trabalho, a baixa remuneração no setor privado?

Outro exemplo: para concluir que o serviço público no Brasil é caro, o banco fez uma comparação com outros 50 países. Entre eles, estão algumas das maiores economias do mundo, como Estados Unidos, Alemanha, Israel, Japão, e países conhecidos por justiça social e distribuição de renda, como Bélgica e Islândia. Uma das características das economias desenvolvidas é a pouca disparidade remuneratória entre as diversas categorias de trabalhadores. Qual o custo de vida, os serviços públicos oferecidos (com estrutura física e de valorização dos profissionais), qual a formação média dos trabalhadores? Nada disso foi mostrado. A realidade de boa parte desses países é bem diferente do que ocorre no Brasil, onde a média salarial não chega a R$ 2.500,00, enquanto deveria ser de R$ 3.731,39, em novembro, de acordo com o Diesse, para acatar o preconizado pela Constituição Federal. Aliás, não tratar da baixa remuneração da maioria dos brasileiros e apenas compará-la a médias (manipuladas) do funcionalismo é outra grande desonestidade do Banco Mundial replicada pela Globo.

Salário, benefícios e estabilidade foram apontados pelo JN como tripé que representa o “privilégio” do funcionalismo. Não foi informado aos espectadores que a estabilidade está cada vez mais ameaçada; que o funcionalismo é estável e, por isso, não recebe a contrapartida do FGTS; que os servidores, depois de se aposentarem, seguem tendo descontos previdenciários (de 11% ou mais).

A conclusão do banco, e da reportagem, é que mudanças drásticas precisam ser feitas, entre elas, a reforma da Previdência e a mudança na forma de reajuste do funcionalismo, que deveria ter como base a produtividade. O ataque à remuneração do funcionalimo teve como desculpa que deve sobrar dinheiro para que se invista em saúde, educação, segurança. Mas não são servidores públicos que realizam esses serviços? Então, em vez de “peso” seus salários não deveriam ser vistos como “investimento”? Enquanto a folha de pagamento absorve 13,1% do PIB, quase metade do orçamento da União é gasto com o pagamento da dívida pública. É um dinheiro que vai para o mercado financeiro e não traz qualquer benefício para a população; pelo contrário, esses pagamentos são os responsáveis pelas crises financeiras não apenas da União, como de estados e municípios. As reformas e as medidas propostas, aliás, têm sempre um único fim: que ainda mais dinheiro público seja desviado para o setor financeiro e para a agiotagem internacional.

Como não é incomum em sua história, a Globo abriu mão do jornalismo e fez uma propaganda, campanha que se une ao governo e a setores que querem o fim do Estado de direito. Buscando colocar os trabalhadores uns contra os outros, buscou mostrar os servidores como privilegiados, e não como trabalhadores competentes, fundamentais para o desenvolvimento e a autonomia do país. O Sintrajufe/RS, com esta nota, vem a público manifestar seu repúdio a esses ataques, à falta de compromisso da Globo com a verdade e lançará mão de todos os meios disponíveis para buscar reparar as mentiras propagadas, restaurando a verdade dos fatos e da necessidade de um funcionalismo público cada vez mais forte e valorizado, para atendimento da população.

Fonte:  sintrajufe.org.br

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