Mulheres do Brasil (Vilson Antonio Romero*)

Aproveitemos o 8 de março para algo mais do que abraçar, beijar ou dar flores e chocolates para as mulheres deste Brasil varonil.

Dos mais de 214 milhões de brasileiros, a maioria (52%) são do sexo feminino, ou seja, mais de 111 milhões são mulheres.

Mas essa predominância não se reflete na maior parte das abordagens que possamos fazer no que tange à igualdade de gênero, representatividade parlamentar, segurança, entre outras avaliações socioeconômicas.

Se 40% dos homens com 25 anos ou mais não tinham instrução ou não haviam concluído o ensino fundamental em 2019, entre as mulheres, a proporção era um pouco menor (37,1%), diferença que se acentuava no ensino superior, onde 19,4% da população feminina nessa faixa etária já havia se graduado contra pouco mais de 15% dos homens.

Ainda, segundo o IBGE, apesar de terem um melhor nível de instrução, há dois anos, as mulheres só ocupavam cerca de 37% dos cargos gerenciais, estando pior representadas em cargos de gestão e chefia mais bem remunerados e com mais responsabilidades, potencialmente, onde sua presença era inferior a um quarto deles, cerca de 22%.

Uma outra faceta diz respeito à violência que atingiu com maior impacto as mulheres na pandemia. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que os feminicídios e os casos de estupro voltaram a crescer. Entre janeiro e junho do ano passado foram registrados 666 casos de feminicídio e 26.709 estupros contra mulheres no território nacional.

Operações realizadas ao longo de 2021 resgataram 1.937 trabalhadores e trabalhadoras de situação análoga à escravidão, sendo que a Detrae (Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo), do Ministério do Trabalho e Previdência, denunciou um dado alarmante em pleno século XXI: quase três dezenas de mulheres foram retiradas do trabalho escravo doméstico.

E sobre isto é importante ressaltar que o Brasil tem mais de 6 milhões de trabalhadores em serviços domésticos, sendo 92% mulheres, na sua maioria negras.

A despeito de serem 52,5% dos quase 148 milhões de eleitores brasileiros nos 5.568 municípios e de ter uma legislação que estabelece quotas de gênero e de recursos partidários para concorrer, isso não repercute na representação parlamentar e cargos eletivos em geral.

Nas prefeituras, somente 12% das titulares são mulheres e nas Câmaras Municipais não chega a 20% o número de vereadoras. No Congresso Nacional, a bancada de deputadas federais aumentou um pouco em 2018, mas ainda representa só 15% das 513 cadeiras (77), enquanto o número de senadoras perdeu um posto na última eleição, passando a 12. Nos parlamentos estaduais e distrital, a participação das deputadas também é de somente 15%, com 161 ocupantes das 1.059 vagas nas Assembleias Legislativas em todo o país e na Câmara Distrital do DF.

Que todos esses dados possam contribuir para reflexão e posicionamento dessas mulheres guerreiras que dão origem à vida e que são saudadas em prosa e verso, mas que ainda penam e lutam por um lugar adequado e condizente com sua importância na sociedade.

Mas, como se aproxima um novo pleito em outubro não posso deixar de incentivar e saudar o empoderamento feminino e de acompanhar o canto de Benito de Paula: “Agora chegou a vez, vou cantar/Mulher brasileira em primeiro lugar (…)”. Salve as mulheres do Brasil.

(*) jornalista, Auditor Fiscal aposentado, vice-presidente da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (ANFIP).

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