CHILENOS PROTESTAM CONTRA PREVIDÊNCIA

SANTIAGO — Há anos cresce no Chile a insatisfação com as aposentadorias, tão baixas que a maioria das pessoas precisa continuar trabalhando após cumprir o tempo de serviço, ao mesmo tempo em que empresas privadas obtêm enormes lucros investindo economias previdenciárias.
Essa indignação explodiu em julho, quando os chilenos ficaram sabendo que a ex-mulher de um dirigente socialista recebia uma pensão mensal equivalente a aproximadamente R$ 25 mil após se aposentar da polícia carcerária. A cifra supera amplamente a média mensal das aposentadorias, cerca de R$ 1.000, inferior até mesmo ao salário mínimo, que é de R$ 1.253.
Em um país já assolado pela corrupção disseminada na política e no mundo empresarial, a raiva era palpável.
Centenas de milhares de pessoas fizeram passeatas em Santiago e outras cidades para protestar contra o sistema previdenciário privado. Mais de 1,3 milhão de chilenos, segundo os organizadores, saíram às ruas em agosto, na maior onda de manifestações desde a restauração da democracia, em 1990.
Um desses manifestantes era Luis Montero, 69, cuja aposentadoria mensal é de aproximadamente R$ 500. Montero passou a maior parte da sua vida profissional na economia informal, sem carteira assinada.
“Eu gostaria de parar e descansar, mas não posso”, disse. “Não tenho ideia do que vou fazer quando ficar mais velho. ”
Em 1981, a ditadura do general Augusto Pinochet privatizou a Previdência, abandonando o sistema de repartição simples, com contribuições de empregados patrões e governo.
Sob o sistema privatizado, os trabalhadores devem depositar 10% da sua renda em contas operadas por administradoras de fundos de pensão (AFPs), que são empresas privadas. As administradoras investem o dinheiro e cobram uma comissão dos trabalhadores pelas transações. Os empregadores e o governo não fazem nenhuma contribuição.
Há 35 anos, os chilenos tiveram a opção de manter o plano anterior ou passar para o novo sistema. A maioria aderiu à mudança. Mas quem entrou na força de trabalho depois de 1981 foi obrigado a investir no sistema privatizado. No entanto, as Forças Armadas e a polícia ficaram isentas da mudança, e hoje recebem pensões muito maiores que as do sistema privatizado.
O dinheiro investido pelos administradores reforçou o mercado de capitais do Chile, o que estimulou o crescimento econômico e gerou lucros razoáveis. Hoje, seis AFPs, das quais três pertencem a empresas estrangeiras, administram US$ 171 bilhões (R$ 558,3 bilhões) em fundos de pensões, cerca de 71% do produto interno bruto do Chile.
Mas esse pioneiro sistema de Previdência privada não foi capaz de fornecer aposentadorias suficientes para a subsistência da maioria dos aposentados. Se as Bolsas caem ou investimentos dão errado, a poupança dos trabalhadores e o contracheque dos aposentados diminuem.
A presidente Michelle Bachelet disse que seu governo vai buscar um “acordo nacional” sobre a reforma, e para isso já se reuniu com parlamentares, representantes do empresariado, fundos de pensão e alguns manifestantes.
“Estamos caminhando para um meio termo que combine a poupança individual, gastos públicos e contribuições dos empregadores”, disse David Bravo, da Universidade Católica do Chile.
“O sistema previdenciário é injusto”, afirmou a professora Romina Celis, 28. “Não sei qual fórmula podemos usar, mas deve haver mais participação estatal. Precisamos continuar protestando. A ideia de chegar tão precariamente à velhice é assustadora. ”

(Texto do jornal The New York Times, publicado na Gazeta do Povo de 24 e 25 de setembro de 2016)

Fonte: SindiprolAduel Sindicato

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